A grande faena

Abriu a campanha eleitoral e desenham-se as primeiras estratégias.

A entrevista de Sócrates na SIC foi um puro desempenho da "mui nobre" arte tauromáquica.

O "grande matador" travestiu-se de esquerda e mandou entrar os cabrestos para encurralar Manuel Alegre.

Contando com ele para deputado da próxima legislatura e salpicando o seu discurso de preocupações relativas ao desemprego, à agricultura e às famílias, apimentado com um leve afrontamento a Cavaco Silva, está a encaminhar o touro tresmalhado para os curros do partido, prometendo-lhe o regresso à lezíria do parlamento.

A promessa deixada no ar de acesso às "grandes pastagens" que só o poder pode atribuir, deixará manietadas as tropas alegristas no parlamento.

E o povo de esquerda do PS?

Limitar-se-ão ao papel da assistência, batendo palmas pela remissão do líder do partido e dando-lhe o benefício do purgatório ou manterão a memória suficientemente viva e acenarão com lenços brancos de despedida?

A festa acabará com o grande matador transportado aos ombros e volta à arena ou, pelo contrário, os desempregados, os precários e os contribuintes em geral, tomarão consciência que também eles foram levados no "engano do capote" e promoverão a sua saída pela porta pequena?

Entretanto, a música continuará a abrilhantar a faena do recuperado líder da esquerda, para gáudio da alta burguesia instalada nos camarotes desta praça chamada Portugal.