Presa nos elos de uma só cadeia!
Assim começa uma das estrofes do poema de Castro Alves - O navio negreiro.
Presa nos elos de uma só cadeia!
É a constatação que, em pleno séc XXI, fazemos da nova horda de escravos.
As modernas grilhetas que imobilizam os trabalhadores, que lhes tolhem a consciência de classe, que lhes moldam a sua dignidade, têm um nome, convivem connosco e visitam as nossas casas diariamente - são as inúmeras formas de crédito ao consumo.
No tsunami grevista que tem um refluxo de 300 km nas estradas de França, no invulgar caos provocado pela greve dos Caminhos de Ferro Alemães, na luta diária dos portugueses pelo seu direito ao trabalho, por todo o lado onde ainda se luta pela dignidade social, os sindicatos, as comissões de grevistas enfrentam este espectro terrível de serem obrigados a ajoelhar, porque os trabalhadores estão presos nos elos da cadeia do crédito e os dias de greve comprometem seriamente os compromissos mensais assumidos perante os usufrutuários desta nova escravatura.
O chicote estala para anunciar a data do pagamento da casa, os novos escravos perfilam-se à porta dos bancos para satisfazer a mensalidade da mobília de quarto, um dia terão de mostrar os dentes para subir o leilão dos bens penhorados.
Belmiros, Mellos, Roques e outros monopolistas deste moderno negócio negreiro, apregoam ouro, incenso e mirra, pedindo apenas, como contrapartida, que estendamos as mãos para colocar o elo desta cadeia de escravos do crédito ao consumo.
E o navio negreiro continua o seu destino, os escravos procurando sobreviver e as lutas pela dignidade sempre adiadas na esperança que no mercado lhes calhe um amo bom, de chicote mais aveludado.
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