22/10/07

A cola do poder




Continuo a ler as crónicas de Miguel Sousa Tavares no Expresso ( ver neste blog "Miguel Sousa Tavares e a ovelha").
Com o título - Largar Lastro - MST aborda o tema do Poder, começando por referir que «há uma diferença entre deter o poder ou exercer o poder». Acrescenta que «o poder apenas detido é despido de sentido útil: aproveita ao próprio mas não aos outros. Exercer o poder é aproveitar uma oportunidade para poder fazer coisas que são úteis para os outros».
Em mais umas frases MST explana estes conceitos, com os quais, me identifico plenamente.
Por fim, cita os casos de Pinto da Costa, Alberto João Jardim e Jardim Gonçalves, como exemplos de gente que não sabe largar o poder, convencendo-se que é a vontade dos outros que os mantém atados ao leme.

Concordo, mas o meu comentário vai pegar apenas no conceito inicial que diferencia deter o poder e exercer o poder.
Sempre senti isto na minha vida profissional (Marinha), constatando que o sistema contempla e elege aqueles que notoriamente dão garantias que se limitarão a deter o poder . A obsessão em preservar a corporação de elementos que, para o melhor ou para o pior, possam desviá-la do trilho que os actuais detentores do poder herdaram e deram "o seu modesto contributo", como gostam de dizer e é rigorosamente verdade, é de um peso altamente atrofiante e inibidor.
Inovação, risco, dinamismo e abertura ao exterior, deixa-os incomodados e apreensivos. Alguns destes termos são meramente aceites dentro da área tecnológica.

Em termos genéricos, atingir o Almirantado constitui um objectivo persitente, cada vez mais cedo assumido na carreira de alguns oficiais, cuja finalidade não se prende com a possibilidade de acrescentar valor ao ramo e aos que o servem ou, em última análise, um serviço prestado à comunidade, mas, pelo contrário, abrigar-se no poder para satisfação da sua vaidade ou, para fazer vingar os objectivos de detenção do poder do seu grupo, numa perspectiva menos egoísta, mas igualmente sectária; tendo-se viciado num processo repetitivo de não cometer erros compremetedores, cultivam a estagnação, num habilidoso tranpolim para outros voos; chegados ao topo da carreira e quando já não podem voar mais, já não têm a flexibilidade mental adequada para exercer o poder e aproveitar a oportunidade para reformar, melhorar e romper bloqueios.

Mas o caso específico que citei é o reflexo do país.
Em imensas áreas do funcionalismo público, da política e mesmo no sector privado, os receios repetem-se, as ambições são calculadas e o marasmo vinga.

Largar Lastro é o título da crónica de MST. No período épico da guerra de corso, acontecia, com alguma frequência, os corsários verem-se obrigados a largar lastro, para poderem escapar a um adversário mais poderoso ou para ganharem uma posição belicamente mais vantajosa.
Mas o objectivo era voltar a arriscar, socorrendo-se de tacticas inesperadas, do factor surpresa e da motivação dos seus homens.
«Não tinham medo de serem felizes», utilizando o futebolês, e arriscavam.

Caso contrário, lá estava a marinhagem para o enforcar na verga do mastro grande ... por cobardia!

1 comentário:

Anónimo disse...

Trata-se de uma penosa linha de continuidade que vem do seculo passado

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