Todos os marujos sabem que uma viagem redonda é aquela que termina no porto de partida.
Contudo, este cruzeiro, não me deixou no ponto de partida, uma semana mais tarde.
Fiquei a saber que aquele que nos diverte durante os 7 dias, trabalha cerca de 13 horas por dia, ininterruptamente durante os 6 meses de contrato. E ainda lhe sobra humor para os outros...
Num momento de lucidez, arrepiei-me por integrar um cenário dos excessos do "Tudo Incluído", a meia-dúzia de milhas da fome generalizada da costa africana.
Confirmei que o povo marroquino tem a sua imagem prejudicada pelo comportamento da minoria que absorve a área do turismo.
Um povo disperso pela necessidade de sobrevivência, vítima da religião para benefício de uma monarquia endeusada e arcaica.
A satisfação de passar pelas Desertas e fazer a aproximação ao cantado presépio da encosta do Funchal. Um presépio repleto de cidadãos orgulhosos da sua terra, divididos, contudo, entre aqueles que querem o seu quinhão de ouro, mirra e incenso, transportado pelos reis magos do poder e aqueles que simplesmente querem usufruir dos seus direitos de cidadania.
Finalmente, a entrada fluvial mais bonita do mundo, para pisar a terra da eterna dúvida do "Será agora?"
Será agora que nos vamos munir de meios para um combate eficaz à corrupção e ao enriquecimento ilícito, às desigualdades que põem ricos e pobres a caminhar em sentidos economicamente opostos e à indiferença perante a coisa política, que o fatalismo salazarista reduzia ao conceito da «política para os políticos»?
A viagem redonda podia ter-me colocado numa cidade flutuante, onde as dezenas de nacionalidades presentes, poder-me-iam mostrar que a globalização nos deixa mais próximos.
Infelizmente, ESTA globalização também facilita a exploração dos mais débeis!
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