19/08/08

Nascidos para adular ou para espezinhar

Contra ventos dominantes direi:

- Os atletas olímpicos portugueses merecem o nosso respeito!

À minha medida, também pratiquei atletismo.
Inchei de orgulho por representar o meu Liceu nas provas nacionais do 10 de Junho e por ser campeão nacional universitário em 2 modalidades.
Contudo, para ter aqueles momentos efémeros, quanto esforço investido, quanto tempo de lazer prescindido e quanto comportamento espartano para satisfazer o chamado "treino invisível"!
E estamos a falar de um "atleta de bairro"!

Ser atleta olímpico é uma opção de vida, para um jovem. Direi mesmo que o nível competitivo atingido, é demasiado exigente e absorvente para qualquer ser humano daquela idade.

Podem, eles próprios, fazer as mais bárbaras declarações públicas (é necessário contextualizá-las) mas os que fracassaram devem ter visto passar, em alguns segundos, o filme de anos de sacrifícios e de ilusões.
Não precisam que uns compatriotas lhes apontem o dedo, pretendendo o reembolso dos seus impostos a eles infimamente destinados, só porque esta sociedade mediática e consumista de emoções fortes, não aceita que um atleta parta para os Jogos Olímpicos declarando:
- Vou lá fazer o melhor possível, tal como todos os outros milhares que lá estão!

É claro que existem outras frustrações, que irão ser cobradas. As despedidas presidenciais dos atletas que iriam representar a "Nação", os governantes nacionais ávidos de retirar dividendos enchendo a barriga do povo com mais circo e até os governantes regionais a comprovarem "cientificamente" a superioridade de um povo ilhéu ...
«Eu confio, Portugal, confia em vós!», apelo de Cavaco Silva na despedida da delegação.
«Confiança na obtenção dos melhores resultados de sempre», resposta de Vicente de Moura.

Aponto o dedo acusador a Vicente de Moura, por ter criado uma euforia pouco respeitadora do valor dos adversários presentes e por ter cavalgado a onda de críticas aos resultados obtidos, cravando uma faca nas costas dos seus "comandados".

Aponto o dedo a este povo que nasceu, ou melhor foi alimentado, para adular os vencedores, independentemente dos seus méritos, ou para espezinhar os seus iguais, só porque não os ajudaram a libertarem-se, mesmo que efemeramente, das suas frustrações e das explorações de que são alvo privilegiado!






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