12/07/09

Toque de alvorada

O tema "vencimento dos militares", coloca sempre algum incómodo à opinião pública, principalmente nos tempos que correm.

Mesmo o termo "tempos que correm" também é muito vago.

Falamos deste tempo em que as administrações bancárias se premeiam entre si com baús de "plata", para usar gíria de assaltante?

Ou falamos deste tempo em que alguns empresários esfregam as notícias da crise na cara dos seus empregados, para justificar o caminho para a porta da rua?


Falemos apenas do vencimento actual dos militares, sem classificar se são elevados ou baixos, se são justos ou injustos.

Avaliemos simplesmente o vencimento de topo da carreira normal de um oficial (coronel), e comparemos a sua evolução, nos últimos anos, com outras carreiras que, no início dos anos 80, com ela estavam equilibradas.
Interpretações possíveis:
- O equilíbrio inicial estava errado e foi-se corrigindo ao longo dos anos.
Então, sendo o vencimento um factor importante na escolha de uma carreira, criaram-se falsas expectativas para aqueles que, nos anos 80, iniciaram a carreira militar.
FORAM ENGANADOS.
- Os militares, não tendo o poder revindicativo dos sindicatos nem o mesmo direito de reunião e de manifestação, têm a defesa dos seus interesses salariais nas mãos do poder político, segundo um hipotético critério de justiça social.
Comprova-se matematicamente que FORAM ENGANADOS.
Os problemas dos militares não se esgotam, nem pouco mais ou menos, nas questões salariais, talvez estas sejam apenas as mais mensuráveis.
Os últimos anos têm sido férteis em retirar muitos direitos básicos de mera sobrevivência e de dignidade no exercício da função.
O que têm feito?
Têm desenvolvido iniciativas, algumas no limite do quadro legal em vigor, fazendo sentir o seu descontentamento.
As respectivas Associações têm lutado para, no mínimo, serem ouvidas pelo poder político, o qual fez aprovar leis que ... estipulam que as Associações devem ser ouvidas. Mas não são, ou são muito raramente. O tal poder político não anda a dormir, sabe que imensos militares não acreditam na força da associação, o que é estranho dada a própria definição de forças armadas.
O corpo militar reflecte a estratificação da restante sociedade, os desequilíbrios específicos da sociedade portuguesa e a acomodação dos estratos menos afectados por esse desequilíbrio.
Os oficiais carregaram, durante anos, os louros morais e éticos de terem sido os motores da Revolução (É doloroso assistir a rixas pseudo-históricas na praça pública, por parte de alguns dos seus intérpretes mais emblemáticos, que teimosamente se recusam a sair de cena).
As responsabilidades com que agora se sentem coroados e a chamada "ponderação dos anos" impedem-nos de assumir posições na defesa dos seus comandados, como historicamente sempre lhes foi exigido e ... cumprido.
Os sargentos, maioritariamente vítimas dos desequilíbrios sociais e culturais da nossa sociedade, estão a encontrar, lentamente, os seus líderes naturais, reunindo, sustentadamente, as condições para encabeçarem a revolução corporativa que lhes bate à porta.
Sem armas, mas com a força da razão e ... do número!

1 comentário:

José Sousa e Silva disse...

Como de costume, está muito correcta a sua análise da situação.
Vejamos o que nos reserva o novo RDM.
Abraço Amigo.
José Sousa e Silva

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