A organização

Mais uma vez cumpri o meu sacrifício cívico, ou melhor, o «honroso cargo de membro da mesa de voto nº 14», como refere o alvará de nomeação.

Aguentei, a pé firme, desde as 7 da matina até às 22 horas, na mesa de voto dos mais velhos do envelhecido eleitorado de Vale de Milhaços (Seixal).

Ainda não passei de 2º escrutinador e não sei se existe limite de idade para estas funções, porque não gostaria de me reformar deste sacrifício cívico, sem subir, pelo menos, a 1º escrutinador.

Mais uma vez assisti ao desfile penoso, mas também notável, de inúmeros eleitores fisicamente diminuídos, apoiados por familiares, a exercerem o seu direito de voto.

O convívio que se estabelece entre os membros da mesa (todos meus superiores hierárquicos) permite retirar ilações sobre o fenómeno específico desta mesa de voto.

Os membros afectos à CDU, em maioria na mesa e em exclusivo no apoio da Freguesia, Delegado, "curiosos" dos resultados e equipa de limpeza, informavam-me que tinha havido um envolvimento, nunca visto, da Igreja, no sentido de mobilizar e dar orientações eleitorais aos seus fiéis. Disseram-me mesmo que os chamados SMS's em Massa tinham proliferado entre os idosos mais electronicamente evoluídos.

Contudo, vejamos os resultados desta mesa para a Câmara Municipal:

CDU-324, PS-176, PSD-74, BE-36, CDS-23, MMS-2, Brancos-8 e Nulos-7

Ou os fiéis trocaram as voltas aos sacerdotes-mobilizadores ou a "Igreja" é outra ...

Se realmente houve "toque de reunir" das tropas comunistas, só tenho que os felicitar. As "paradas militares" que constituíram a demonstração de força da CDU no Pavilhão Atlântico e agora no Palácio de Cristal, só enaltecem uma capacidade de organização, estruturada nos tempos da clandestinidade, de uma força política que não quer entregar as armas.

Critico a sua prática política na crença de seita ungida para destinar a felicidade dos seixalenses, mas admiro a sua capacidade para resistir à adversidade e a sua notável organização.