12/12/07

A vingança do velho negro!


Depois de ter visto o 1º episódio do documentário de "A Guerra" de Joaquim Furtado(JF), tive a felicidade de ver, ontem o 8º episódio.

Também li alguns comentários e achei este, delicioso e carregado de simbolismo:

-"Quanto em 74, já depois do 25 de Abril, cheguei a Angola inserido no último batalhão enviado, rumei ao mato. Do cimo da Berliet em andamento e ao passar por uma cobata de barro e telhado de colmo, acenei um adeus ao ancião na “porta”, tal como ingenuamente qualquer miúdo de escola faria através do vidro de trás da carrinha escolar.O velho negro levantou a mão devagar, e quando eu penso que me vai retribuir o cumprimento, encolhe dois dedos e deixa o médio esticado…"


Inicialmente, tinha ficado com alguma frustração, porque JF não tinha apresentado as devidas razões, ou melhor, atenuantes, para a carnificina da UPA no Norte de Angola. Contudo, achei o trabalho excelente, uma vez que não estamos perante um estudo histórico, mas tão sómente, perante uma perspectiva do realizador.


Como participante dessa guerra, que, não esqueçamos, teve cenários totalmente distintos, conforme o local e a data, vários factos me impressionaram neste documentário:

- a inocência da esmagadora maioria dos combatentes, de ambos os lados, em contraste com os maquiavélicos interesses internacionais, com os fraticidas jogos de poder dos dirigentes da guerrilha e com as frias decisões dos governantes coloniais;

- que raio de país este que mantinha no poder, durante décadas, homens rancorosamente anti-democráticos, mas fundamentalmente dirigentes sem qualquer carisma pessoal, direi mesmo mediaticamente ridículos(Salazar e Tomáz)

- a minha admiração pela capacidade de sobrevivência dos soldados portugueses e a minha tristeza pela sua genérica resignação(nem sequer era verdadeiramente revindicado o direito do cadáver do combatente regressar a casa)

- a "impureza" dos movimentos de libertação, onde se desenvolviam puros actos de racismo entre os seus dirigentes e as batalhas fraticidas, em pleno mato, por razões territoriais e estratégicas

- a impossibilidade de efectuar uma análise militar simplista do conflito, uma vez que, durante os anos de guerra, ouve situações de supremacia tecnológica dos guerrilheiros e outras situações em que, um grupo de 50 homens, apenas dispunha de 1 pistola...


Em qualquer guerra é imprescindível os combatentes sentirem o apoio da população e da opinião pública. Foi curioso registar que, mesmo nas colónias em guerra, os soldados portugueses receberam o inequívoco apoio dos colonos brancos, mas numa fase posterior e no prolongar da guerra, as atitudes mudaram substancialmente. A relação que oficiais e soldados e até mesmo as famílias que os acompanharam, estabeleciam com a população nativa, era, genericamente, bastante diferente da dos velhos colonos. Ainda não estava contaminada pelo vírus da exploração, com todas as racistas consequências.


Em conclusão, houve uma guerra colonial em várias frentes, durante demasiado tempo, com doses catastróficas de violência gratuita, mas, como de costume, os verdadeiros culpados morreram na cama, quiçás ungidos pela água purificadora das lágrimas das viúvas.

E em África, os novos libertadores trouxeram da mata os ódios que os separavam, para que, outra vez os mesmos, continuem à espera que lhes prometam hipocritamente dilatar a "esperança de vida".

África! Porque mexemos nela!?

Era o que o velho negro queria dizer, com os dois dedos encolhidos e o médio esticado...

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