27/11/08

A Mesa B


Parece que ando a fazer o périplo da desgraça, mas não, é apenas o circuito do quotidiano.


Ontem fui pedir um documento na Conservatória do Registo Civil de Almada.

Eram 14 horas quando entrei no pequeno espaço de atendimento com 5 cadeiras. Estariam lá umas 20 pessoas.

Cliquei para obter a senha de atendimento respectiva.

64 Mesa B

Olhei para o quadro electrónico

18 Mesa B

Alguns sorrisos irónicos das outras vítimas.

Não percebi.

Fui ficando esclarecido.

Eram 8 mesas de atendimento, mas só 2 em funcionamento.

Os meus outros "colegas" para a Mesa B, estavam lá desde as 9 horas

Fora da Conservatória, passeariam por Almada mais umas 20 ou 30 pessoas com a preciosa senha da Mesa B, no respectivo bolso.

A penúltima pessoa a ser atendida esteve na Mesa mais de 2 horas - o sistema informático fora, mais uma vez, "abaixo".


Nem tudo parecia mau. Como não havia televisão, nem computador, as pessoas comunicavam, falavam com o vizinho e partilhavam a vida.

Desilusão.

«Estou aqui, mas tenho a minha irmã com um cancro em estado terminal»

«Tenho de estar sentada, porque fui operada e correu assim, assado e frito»

«Conheço um chá que me baixou o colesterol»


De repente, uma pequena felicidade passou pela cara das pessoas.

«Sente-se aí e quando se lembrar do ano de nascimento da sua senhora, diga-me». Um velho de etnia cigana sentou-se e a lista de espera deu um passo em frente.


Fui juntar-me aos que andavam a passear por Almada com uma valiosa senha da Mesa B.

Amanhã, uns voltarão, outros serão substituídos.

Talvez amanhã o sistema informático funcione, porque o outro "sistema" está moribundo!

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