Parece que ando a fazer o périplo da desgraça, mas não, é apenas o circuito do quotidiano.
Ontem fui pedir um documento na Conservatória do Registo Civil de Almada.
Eram 14 horas quando entrei no pequeno espaço de atendimento com 5 cadeiras. Estariam lá umas 20 pessoas.
Cliquei para obter a senha de atendimento respectiva.
64 Mesa B
Olhei para o quadro electrónico
18 Mesa B
Alguns sorrisos irónicos das outras vítimas.
Não percebi.
Fui ficando esclarecido.
Eram 8 mesas de atendimento, mas só 2 em funcionamento.
Os meus outros "colegas" para a Mesa B, estavam lá desde as 9 horas
Fora da Conservatória, passeariam por Almada mais umas 20 ou 30 pessoas com a preciosa senha da Mesa B, no respectivo bolso.
A penúltima pessoa a ser atendida esteve na Mesa mais de 2 horas - o sistema informático fora, mais uma vez, "abaixo".
Nem tudo parecia mau. Como não havia televisão, nem computador, as pessoas comunicavam, falavam com o vizinho e partilhavam a vida.
Desilusão.
«Estou aqui, mas tenho a minha irmã com um cancro em estado terminal»
«Tenho de estar sentada, porque fui operada e correu assim, assado e frito»
«Conheço um chá que me baixou o colesterol»
De repente, uma pequena felicidade passou pela cara das pessoas.
«Sente-se aí e quando se lembrar do ano de nascimento da sua senhora, diga-me». Um velho de etnia cigana sentou-se e a lista de espera deu um passo em frente.
Fui juntar-me aos que andavam a passear por Almada com uma valiosa senha da Mesa B.
Amanhã, uns voltarão, outros serão substituídos.
Talvez amanhã o sistema informático funcione, porque o outro "sistema" está moribundo!
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