25/04/08

Um guia para a liberdade


Corria o ano de 2006 na velha Boipeba, pequeno povoado escondido na mata atlântica, de uma ilha da costa brasileira.

Chovia.

Um grupo de jovens ligava para o paraíso, através de umas latas de fresquinhas "Skol".

Como a chamada estava interrompida, eles insistiam...

Estavam nesta moleza bahiana, quando, um charco de água mal colocado, lhes dá um banho de lama pela acção de um dos tratores existentes na ilha.

Boipeba não tem automóveis, nem motociclos, apenas um monopólio de tratores está autorizado a transportar carga e passageiros. Qualquer veleidade para um nativo exibir o seu braço esquerdo à janela de uma máquina motorizada, ao longo dos 95 metros da rua principal de Boipeba, seria objecto da tropical atenção dos dois únicos policiais.


Mas, entretanto a lama chegou ao seu destino.

A lama, numa repentina aliança com a cerveja, exaltou ânimos entre jovens e tratorista-empresário.

Ameaças de atropelamentos selectivos e referências às delicadas mamães dos intervenientes encheram a rua.

Mas o calor dos trópicos sempre interrompe o infindável.

Algumas cervejas mais tarde, os nossos abnegados consumidores entenderam pôr em prática o plano que há muito era discutido pela população - proibir a circulação de tratores no interior da vila.

E este incidente apenas seria a mola de arranque.
Preservava-se a genuidade da terra e estimulava-se o surgimento de novas actividades. As bagagens dos turistas passavam a ser transportadas em carrinhos de mão desde o cais até às pousadas de alojamento, novos guias orientavam os turistas para o local de partida dos tratores ( fora da vila) para circularem pela ilha e reactvar-se-ia a circulação de carroças puxadas por burros para transportar materiais de construção para o interior da vila.
Mais emprego surgiria.
Mas, nem tudo são jagarandás n Velha Boipeba.
Historicamente óbvio, o detentor do monopólio de tratores e o Prefeito, eram unha com carne, e a tentativa de legalizar a tentativa estava aparentemente condenada.
A solução passou pela imaginação e pelo poder popular.
Encabeçada pelo nosso grupo de jovens, um estranho desfile foi organizado e percorreu as ruas da Velha Boipeba. Desde o tempo dos colonizadores portugueses, contracenando com os índios, que não era visto um cenário tão carnavalesco.
Os desenhos mais elaborados, cujo tema central era o trator, a lama, o monopólio, a relação poder económico-poder político, eram transportados por hóme, mulhé e minino.
A força do ridículo saiu à rua e aliou-se à razão.
Como o circuito era curto, estacionaram na velha praça, que até tem campo de bola.
E o Prefeito, porque é perfeito, obviamente surgiu, vindo de longe.
"Estou vindo agora mesmo de Cairu, para vos dizer que vocês, povo, tiveram a ideia que eu há muito tinha na cabeça. Vamos todos fechar já o trânsito de tratores por esta linda terra e não tem mais mas, nem porquês."
Falou!
Um dos mais activos jovens participantes desta vitória popular, guiava-me agora, 2 anos mai tarde, por uma longa e tórrida trilha, deixando a Velha Boipeaba para trás.
O entusiasmo que ele pôs na narração desta história, aqui encurtada, e a esperança que ele deposita em novas conquistas para os seus conterrâneos, levou-me a olhar para trás, mas a Velha Boipeba ainda lá estava...

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