A Revolta da Chibata (Brasil 1910)
O recrutamento militar – Desde o período colonial, o recrutamento de soldados e marinheiros era feito de maneira particularmente violenta. Para começar, o recrutamento era forçado, arbitrário e recaía sobre pessoas de origem humilde, que não tinham como se defender. Os que dispunham de alguma fortuna compravam a sua isenção do serviço militar. Além disso, os homens recrutados eram submetidos a constantes violências, que incluíam desde uma péssima alimentação até castigos corporais.
A rebelião – A Revolta da Chibata ocorreu na Marinha. Em comparação com o Exército, a Marinha era tradicionalmente elitizada, e a distância entre oficiais e marinheiros era muito maior do que a existente entre postos análogos no Exército. Desde meados do século XIX, o tratamento humilhante e violento na Marinha vinha sendo questionado sem nenhum resultado concreto. Com o advento da República, aquela forma de tratamento que vinha do Império era insustentável. Contudo, foi necessária uma rebelião ameaçadora dos marinheiros para que a Marinha adoptasse medidas disciplinares menos brutais.
A rebelião ocorreu em 1910. Nesse ano, o marinheiro Marcelino Rodrigues Meneses, que servia no Minas Gerais, fora condenado a 250 chibatadas. Seus companheiros - obrigados, como de costume, a assistir ao castigo - não se contiveram e, na noite de 22 de novembro, revoltaram-se. Os outros três navios (São Paulo, Bahia e Deodoro) estacionados na Guanabara aderiram. O líder da revolta foi o marinheiro João Cândido.
Embora tenha sido precipitada pelo castigo de Meneses, a revolta já vinha sendo preparada havia muito tempo. Assim, os rebeldes estavam razoavelmente organizados, o que lhes permitiu dominar com rapidez os quatro navios. O comandante do Minas Gerais, Batista Neves, foi morto, juntamente com outros oficiais. Também houve mortes do lado dos marinheiros.
A repressão – O objetivo da revolta era simples, conforme declarou o cabo Gregório do Nascimento, que assumiu o comando do navio São Paulo: conseguir o fim do castigo corporal e melhorar a alimentação.
João Cândido enviou pelo rádio uma mensagem, ameaçando bombardear a cidade e os navios que não haviam aderido à revolta, caso suas reivindicações não fossem imediatamente atendidas.
O governo brasileiro estava sem alternativas, pois os canhões estavam apontados para a cidade. Assim, foi proposto e aprovado um projecto que atendia aos marinheiros e lhes concedia amnistia. Com isso, os revoltosos depuseram as armas e submeteram-se às autoridades.
Porém as concessões do governo ficaram no papel. Os novos comandantes nomeados para os navios revoltados ordenaram a prisão de João Cândido e dos seus companheiros, muitos dos quais morreram numa masmorra na ilha das Cobras. Desse modo, os oficiais e o governo vingaram-se dos marinheiros que ousaram revoltar-se. João Cândido, no entanto, conseguiu sobreviver a todas as atrocidades, sendo enfim absolvido em julgamento realizado em 1912. Conhecido como Almirante Negro, João Cândido faleceu em 1969.
O marinheiro João Cândido, conhecido pelo Almirante Negro, escoltado para a prisão.
Não deixe de ouvir a canção "A revolta da chibata" (post acima)
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